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quinta-feira, 13 de março de 2008

PUBLICADO NO PORTAL MHÁRIO LINCOLN DO BRASIL

Matéria publicada no Portal Mhário Lincoln do Brasil
http://www.mhariolincoln.jor.br
12/03/08
AINDA SE DISCUTE A HONRA DO ALMIRANTE NEGRO JOÃO CÂNDIDO
(LEIA MAIS ABAIXO RESPOSTA IMEDIATA DE ELVANDRO BURITY)
Marinha libera ficha do "almirante negro" . Após 97 anos, documentos sobre o líder da Revolta da Chibata, que levou ao fim dos castigos corporais na Marinha, são divulgados.
(Texto original de: MARCELO BERABA)
A Marinha liberou, após 97 anos, documentos referentes ao marinheiro de 1ª classe João Cândido Felisberto (1880-1969), o "almirante negro", líder da Revolta da Chibata, e ajudou a localizar sua ficha no Arquivo Nacional. Os documentos agora tornados públicos só haviam sido consultados por oficiais e historiadores da Marinha e usados para corroborar a versão oficial do episódio que acabou com os castigos corporais nos navios de guerra.A liberação é um fato novo. Durante todo este tempo, os pesquisadores e os filhos de João Cândido esbarraram em negativas da Marinha, que jamais aceitou a elevação dos revoltosos à condição de heróis. O próprio João Cândido nunca conseguiu ter acesso à documentação. Em depoimento no MIS do Rio em 1968, ele reclamou: "... os [arquivos] da Marinha são negativos, João Cândido nunca existiu na Marinha"....Conheça esse e outros detalhes em ...
O documento mais importante é a ficha funcional. João Cândido entrou para a Marinha como grumete em 10 de dezembro de 1895, chegou a ser promovido a cabo, mas depois foi rebaixado. Nos 15 anos em que permaneceu na Armada, ele foi castigado em nove ocasiões com prisões que variaram de dois a quatro dias em celas solitárias "a pão e água" e duas vezes com o rebaixamento de cabo para marinheiro.Não há registro, na sua ficha de 24 páginas escritas à mão, de que tenha sido espancado, como era comum. Extinto em 1889 logo após a Proclamação da República, o castigo físico foi restabelecido pelo Governo Provisório no ano seguinte. A rebelião dos marinheiros em 22 de dezembro de 1910 já vinha sendo alimentada ao longo destes 20 anos, mas só foi deflagrada depois que o marinheiro Marcelino Rodrigues foi punido com 250 chibatadas.A ficha de João Cândido registra dez elogios e uma promoção a cabo (1903), revogada definitivamente em 1907. O último elogio por bom comportamento é de setembro, três meses antes de liderar a rebelião.João Cândido participou de dezenas de manobras em toda a costa brasileira, navegou pelos rios das bacias do Amazonas e do Prata e esteve duas vezes em longas viagens pela Europa.HistoriadoresO mérito da revelação dos documentos e da ficha funcional de João Cândido se deve a uma equipe de cinco historiadores da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) encabeçada por Marco Morel, 47.Contratado pelo Projeto Memória da Fundação do Banco do Brasil para fazer uma pesquisa sobre o líder da revolta, Morel conseguiu autorização de um dos dois filhos vivos de João Cândido, Adalberto, para ter acesso aos documentos.O pedido foi baseado na lei 11.111 de 2005, que normatiza a liberação de documentos oficiais. O trabalho de pesquisa para o Projeto Memória está sendo feito junto com Tânia Bessone, também professora da Uerj, e três doutorandos. Uma delas, Silvia Capanema, descobriu na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, outra preciosidade: uma série de 12 artigos de memórias assinados por João Cândido publicados em 1912 na "Gazeta de Notícias". Falta digitalizá-los.Há algumas coincidências nesta história. João Cândido viveu as décadas que se seguiram à expulsão da Marinha em desgraça. Nem as empresas comerciais de navegação lhe davam emprego. Foi redescoberto pelo jornalista Edmar Morel (1912-1989), autor do livro que passou a identificar a rebelião: "A Revolta da Chibata" (1959).Edmar foi encontrá-lo como carregador no antigo mercado de peixes da praça 15, no centro do Rio. De lá via bem próxima a Ilha das Cobras, onde esteve preso, foi torturado e quase morreu. A ilha abriga hoje, entre outras seções da Marinha, o Serviço de Documentação.O historiador Marco Morel é neto de Edmar Morel. Também jornalista no início da vida profissional, dedicou-se ao ensino e à pesquisa histórica. Sua especialização é o Brasil do século 19, mas, por causa do avô, interessou-se por João Cândido. Ele doou o acervo de Edmar Morel à Biblioteca Nacional.NA INTERNET
www.folha.com.br/080674veja fotos liberadas Ex-marinheiro morreu pobre aos 89 anos Em 22 de novembro de 1910, inconformados com os castigos corporais ainda impostos pelos oficiais da Marinha, João Cândido e cerca de 2.300 marinheiros se sublevaram, tomaram à força quatro navios de guerra na baía da Guanabara e bombardearam o Rio, então capital federal, como advertência. No episódio, morreram quatro oficiais nos navios e duas crianças em terra.A rebelião foi planejada, e seu estopim foi o castigo de 250 chibatadas imposto ao marinheiro Marcelino Rodrigues diante da tripulação do encouraçado Minas Gerais. Os revoltosos tomaram também o encouraçado São Paulo, o cruzador Bahia e o navio de patrulha Deodoro.João Cândido foi guindado a chefe da insurreição, "o primeiro marinheiro no mundo a comandar uma esquadra", observou Edmar Morel.Uma semana antes da rebelião, o marechal Hermes da Fonseca assumira a Presidência.Pressionado pelo poderio nas mãos da marujada, o Congresso aprovou o fim dos castigos e a anistia. Com a vitória, quatro dias depois os navios foram devolvidos. Meses depois, no entanto, uma nova rebelião -forjada, segundo os próprios marinheiros, por oficiais para incriminá-los-, provocou uma forte repressão na Marinha.João Cândido e 17 militares que haviam participado da primeira revolta foram levados para a Ilha das Cobras. No terceiro dia, 16 deles estavam mortos. João Cândido sobreviveu. Apesar da anistia, foi expulso da Armada.A Marinha aprisionou centenas de outros revoltosos no navio Satélite e os mandou para a Amazônia. Vários foram fuzilados e os que sobreviveram foram deixados na floresta para trabalho forçado.O historiador Marco Morel avalia que o movimento serviu como "um golpe de misericórdia nos resquícios de escravidão que ainda permaneciam arraigados na sociedade".O gaúcho João Cândido teve uma vida difícil depois da expulsão. Redescoberto na década de 1950 trabalhando num mercado de peixes, foi transformado num símbolo e apoiou a Revolta dos Marinheiros, ocorrida em 25 de março de 1964, às vésperas do golpe militar.Ele morreu em 1969, aos 89 anos, pobre, doente e sem ter sido anistiado. (MB)Marinha não vê heroísmo no episódio Até hoje a Marinha considera a Revolta da Chibata "uma rebelião ilegal, sem qualquer amparo moral ou legítimo", sustenta o Centro de Comunicação Social da Marinha:"A Revolta da Chibata, ocorrida no ano de 1910, sob a ótica desta Força constitui-se em um triste episódio da história do país e da própria Marinha do Brasil (MB), e sobre a qual, hoje, dificilmente podemos aquilatar, com precisão, as origens e desdobramentos que antecederam aquela ruptura do preceito hierárquico. A MB sempre se pautou pela firme convicção de que as questões envolvendo qualquer tipo de reivindicação obteriam a devida compreensão, reconhecimento e respaldo para decisão superior, por meio do exercício da argumentação e sobretudo do diálogo entre as partes, o que é de fundamental importância para o pleno exercício da liderança e para o estabelecimento de vínculos de lealdade. A despeito dos fatos que motivaram aquela crise, o movimento não pode ser considerado como "ato de bravura" ou de "caráter humanitário". Vidas foram sacrificadas, material da Fazenda foi danificado, a integridade da capital foi ameaçada.Esta Força entende que outras formas de persuasão e de convencimento não foram esgotadas pelos amotinados, motivo pelo qual considera a Revolta da Chibata uma rebelião ilegal, sem qualquer amparo moral ou legítimo, não obstante a indesejável e inadmissível quebra da hierarquia. Na história do Brasil, muitas questões ligadas a direitos humanitários obtiveram solução pelas vias legais, sem açodamento. A abolição da escravatura, assunto mais abrangente e de importância maior na escala de valores nacionais, obteve equacionamento de forma gradual, inicialmente, por meio de leis menores, que foram se complementando, até atingir-se a lei definitiva, em maio de 1888.Quaisquer que tenham sido as intenções do sr. João Cândido Felisberto e dos demais amotinados que o apoiaram, fazendo uso do ideal do resgate da dignidade humana, a MB não reconhece heroísmo nas ações daquele movimento. Os estudos oficiais e fidedignos sobre o tema sequer certificam o verdadeiro mentor da revolta". Levante de João Cândido era tabu na instituição A Revolta da Chibata sempre foi um tabu para a Marinha. Ela não só ignorou a anistia concedida pelo Congresso em 1910 aos marinheiros sublevados como até recentemente perseguiu os que trataram os revoltosos como heróis.No prefácio de "A Revolta da Chibata", Edmar Morel relata que Aparício Torelly, o Barão de Itararé, foi seqüestrado em 1934 por oficiais da Marinha depois de publicar na "Folha do Povo" duas reportagens sobre a vida de João Cândido. Segundo Morel, foi depois deste episódio que o humorista colocou na porta de sua sala no jornal a placa "Entre sem bater".O "Diário da Noite" teve de interromper, por pressões, uma campanha para ajudar o ex-marinheiro que estava doente. No Estado Novo, o escritor Gustavo Barroso foi proibido pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) de continuar a escrever sobre a revolta em "A Manhã".O próprio Edmar Morel foi cassado pelo regime militar, em 14 de abril de 1964.Ainda durante a ditadura, Aldir Blanc teve problemas com a censura quando ele e João Bosco compuseram "O Mestre-Sala dos Mares", gravado por Elis Regina em 1974. Ele conta que teve de comparecer três vezes ao departamento de censura que funcionava no Palácio do Catete, então já transformado em museu. "Ouvimos ameaças veladas de que o Cenimar [Centro de Informações da Marinha] não toleraria loas a um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais."O título original do samba era "O Almirante Negro". Com o veto eles mudaram para "O Navegante Negro", sem sucesso. Um dia o censor lhe chamou num canto e disse que o problema continuava porque a música fazia apologia dos negros. "Foi a maior manifestação de racismo que já vi." Eles mudaram o título para "Mestre-Sala dos Mares" e várias passagens, e a música foi aprovada.Apesar da decisão do Congresso em 1910, João Cândido nunca foi anistiado. Por essa razão, a então senadora Marina Silva (PT-AC) apresentou projeto de lei que lhe concede a anistia "post mortem". O projeto, aprovado no Senado em 2002, está parado na Câmara desde março de 2005.O Palácio do Catete era a sede do governo em 1910 quando os sublevados da Armada apontaram os canhões para o Rio. Em 22 de dezembro do ano passado, os jardins do Catete, hoje Museu da República, passaram a abrigar a estátua de bronze de três metros de João Cândido. Obra do escultor Valter Britto, o Almirante Negro olha para as águas da Guanabara onde, há 97 anos, liderou a revolta dos marinheiros. (MB)
RESPOSTA IMEDIATA
Por duas vezes escrevi sobre a REVOLTA DA CHIBATA:1º) Em julho de 2004 fui convidado a proferir uma palestra abordando a emblemática figura do "Almirante Negro". Entretanto, a palestra, somente, aconteceu no dia 18 de novembro daquele ano. Escolhi o tema: REVOLTA DA CHIBATA. O estímulo para fazê-lo? A história foi feita para ser contada. Por isso, é que documentos e arquivos são abertos e publicados. Há uma necessidade de conhecermos a história. Mas isto tem que ser feito sem omissões e sem excessos. Apenas contemos o que aconteceu sem darmos asas às nossas imaginações... E aqui reside a grande dificuldade de escrever algo sobre a "REVOLTA DA CHIBATA". 2º) A segunda oportunidade foi no Portal Mhário Lincoln do Brasil.Duas tarefas difíceis de serem concretizadas. Pela terceira vez volto ao assunto e o estimulo para perseverar continua sendo o fato de que, Carlos de Laet, o Patrono da Cadeira que ocupo na Academia de Letras e Artes do Estado do Rio de Janeiro - ACLERJ, esteve envolvido com aquele movimento. Nas pesquisas encontrei, inclusive, a confirmação do pronunciamento de que: Carlos de Laet orgulhava-se de não ter desembainhado a sua espada contra os revoltosos.Durante anos, o simples mistério imposto ou a ocultação sobre detalhes da vida de João Cândido, para mim, é um fator gerador de curiosidade. Curiosidade de pesquisar e conhecer algo sobre João Cândido. Lembro de que no meu tempo da ativa ou melhor quando marujo (grumete e marinheiro de 2a. classe, idos de 1957) "se pronunciado fosse o nome João Cândido" era motivo, mais do que suficiente, para que algum graduado lançasse olhares diferentes...
Naquele tempo (1957) o grau de instrução do marujo era o primário incompleto com algumas exceções. Fico a imaginar o nível de instrução nos idos de 1910. Em 1957, eu falava inglês, arranhava no francês e dominava a álgebra, em contrapartida e exame para SO exigia o conhecimento e domínio das operações com números relativos. Qual o meu grau de instrução àquela época? Segunda série do ginásio. Hoje, os tempos são outros, dependendo da situação será exigido nível médio ou superior completo. Eu, também, evolui, conclui o curso superior, pertenço ao movimento acadêmico do Rio de Janeiro, etc etcNão digam que escrever sobre a Revolta da Chibata seja o rever fatos soterrados na gélida memória dos porões de uma propositada e esquecida história ou que seja uma maneira de agredir o presente. Reconheçamos que João Cândido teve a glória de lutar pela causa dos pobres e humildes/humilhados marujos e, consequentemente, proporcionou-lhes um porvir mais feliz e humanitário. E aqui é válido mencionar o que durante muitos anos na Marinha era conhecido pelo marujo como: "LIVRO DE CASTIGO". Castigo nos arremete a associar com alguma punição física. Seria tal denominação um resquício dos tempos da chibata? Nos tempos atuais o livro recebe a denominação de LIVRO DE TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES, anteriormente com a denominação de LIVRO DE CONTRAVENÇÕES DISCIPLINARES nos levava a pensar em infração ou ilícito penal. Sem sombra de dúvidas a terminologia atual: LIVRO DE TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES mais se coaduna aos tempos modernos. Inclusive é facultado ao militar que tem seu nome nele inscrito: além de receber uma cópia do lançamento, dispor de 48 (quarenta e oito) horas para apresentar as suas alegações (contraditório) e para tanto pode contar com o auxílio de advogado dativo. O advogado não poderá participar ou assistir o militar quando da audiência com a autoridade que irá julgar a transgressão disciplinar.Exercitando a vocação de escritor, não imponho qualquer limitação para a minha liberdade de pensar. Será que devo impor limites ao que escrevo?Um povo quando transcende à simplista denominação de habitantes de uma localidade ou região, merecidamente, pode ser considerado como componente de uma nação no sentido mais amplo: nos hábitos, costumes, na preservação lingüistica, na afinidade de interesses e no culto à sua história. Um povo é órfão quando ignora seus próprios valores, perde sua identidade quando aceita valores impostos e sem senso crítico, torna-se presa fácil para invasões culturantes: não devemos permitir sejam nossos valores varridos quaisquer que tenham sido os movimentos libertários: Queda da Bastilha, Inconfidência Mineira, Quilombo dos Palmares, etc etc Uma nação, hoje livre, poderá amanhã estar escravizada. Reino ontem, República hoje, tais são as fantásticas mutações da cena das nações.A história da conquista da liberdade brasileira foi escrita à tinta sangue e à custa de muito sacrifício. Dentre os heróis do povo brasileiro que não figuram nos compêndios da história oficial, consequentemente, esquecido na memória de nossa gente, temos João Cândido. Qual o empecilho para nela (história) não inserirmos João Cândido, o Almirante Negro?João Cândido nasceu em 24 de junho de 1880, na Vila São José Encruzilhada do Sul, distrito de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Filho de um tropeiro. Ingressou na Marinha, sem grandes sonhos, aos 13 anos de idade.A Enciclopédia Encarta registra que quando da revolta da chibata. O uso da chibata nas punições, embora já proibida por lei, continuava em uso na Marinha de Guerra Brasileira.A punição do marinheiro Marcelino Rodrigues, com 25 chicotadas, foi o estopim para a revolta, liderada pelo marinheiro João Cândido.Os sublevados tomaram os couraçados Minas Gerais, São Paulo, Deodoro e o cruzador Bahia, ocorrendo a morte de vários oficiais. O ultimato apresentado ao governo exigiu, além de outros direitos, a abolição da chibata e a anistia. O governo cedeu e a Câmara dos Deputados concedeu perdão aos revoltosos. Entretanto, o governo não cumpriu a promessa e , em 9 de dezembro do mesmo ano explodiu outra rebelião dos marujos. Vários deles foram mortos, deixados na Amazônia e outros expulsos. João Cândido foi preso e torturadoNOVENTA E OITO ANOS se passaram... Pelo que li na matéria publicada por MARCELO BERABA da Folha de S.Paulo, diante da declaração e do pouco liberado pela Marinha, não há como esperar um descortinar amplo e irrestrito?Consta que em 1910 alguns escritos que se ocuparam do assunto a nível nacional, procuraram elevar aqueles marinheiros, tidos como badamecos, à categoria de heróis ou de cidadãos paradigmas. Desafiando a paciência dos leitores... Por mais que eu queira ser sucinto... Não posso deixar no desvão o sucesso de Aldir Bland, imortalizado por Elis Regina: O Mestre-Sala dos Mares.Aldir Blanc apresentado ao compositor João Bosco por um amigo comum, Pedro Lourenço, na época estudioso da literatura, arte, etc etc Pedro havia feito pesquisas sobre a vida de João Cândido e a Revolta da Chibata. Na mesma época, o MAU (Movimento Artístico Universitário) foi muito influenciado pelo cineasta Claúdio Tolomei, já falecido. Tolomei tinha um projeto de fazer um curta metragem com João Cândido. Tendo estudado sobre a importância gigantesca da Revolta da Chibata e da figura histórica de João Cândido para a cultura brasileira. Baseados no conhecimento que Pedro e Claúdio: João Bosco e Aldir resolveram partir para um samba-enredo clássico: “O MESTRE-SALA DOS MARES”. Mister se faz mencionar os problemas enfrentados com a censura e os problemas com o Setor de Informação da Marinha por não tolerarem loas a um marinheiro que quebrou a hierarquia, matou oficiais, etc, mas teve o mérito de acabar com o castigo físico que eram impostos à marujada. Relatos dão conta que a ida, dos autores do samba-enredo, ao Departamento de Censura, então funcionando no Palácio do Catete, fora marcado pelo interrogatório de um sujeito, bancando o durão, mãos na cintura, com a coronha da arma no coldre e a uns três centímetros do nariz dos interrogados, disse:O PROBLEMA É O NEGRO... NEGRO... NEGRO... Decidiram os autores dar um espécie de sacolejo surrealista na letra para confundir, meteram baleias, polacas, regatas e trocaram o título para o poético e resplandecente: O MESTRE-SALA DOS MARES, saindo da insistência dos títulos como ALMIRANTE NEGRO, NAVEGANTE NEGRO etc etc O artifício funcionou bem e a música fez um grande sucesso nas vozes de Elis Regina e João Bosco. Em 1985 a Escola de Samba União da Ilha trouxe para o carnaval o tema: "UM HERÓI, UMA CANÇÃO, UM ENREDO - NOITE DO NAVEGANTE NEGRO”. Os autores do samba receberam a Medalha do Mérito Pedro Ernesto.Eis a versão original do grande sucesso que tanto emocionou, ainda em vida, o líder da Revolta da Chibata. Cuja música perdeu-se no tempo:Há muito tempo nas águas da GuanabaraO dragão do mar reapareceuNa figura de um bravo marinheiroA quem a história não esqueceuConhecido como Almirante NegroTinha dignidade de um mestre-salaE ao conduzir pelo marO seu bloco de fragatasFoi saudado no portoPelas mocinhas francesasJovens polacas e um batalhão de mulatas.Rubras cascatasJorravam nas costas do negroPelas pontas das chibatasInundando o coraçãoDe toda a tripulaçãoQue comandada pelo AlmiranteGritava então:Glória às mulatas, aos piratas, às sereiasGlória à farofa, à cachaça, às baleias.Glória a todas as lutas inglóriasQue através da nossa históriaNão esqueceremos jamais.Salve o Almirante NegroQue tem por monumentoAs pedras pisadas no caís.Para o poviléu comum e corrente, como para certos arraiais da mais alta linhagem,o chefe da revolta ganhara status de herói na "defesa da causa justa dos pobres marinheiros".Coube a Severino Vieira apresentar um projeto de anistia para os amotinados, o qual encontrou em Ruy Barbosa um dos mais ardentes defensores."O povo está feliz. A gente de cor, os escravos de ontem, sorri com orgulho mostrando a brancura de seus dentes, porque vêem nascer para eles uma nova era de "liberdades" tão sonhada. A aristocracia está de luto. A situação é extremamente crítica. Se o governo cede a marinha morre".O projeto de anistia rezava no seu artigo 1º:"Será concedida anistia aos insurretos da Armada Nacional,. se estes, dentro do prazo que lhes fora marcado, pelo Governo, se submeterem às autoridades constituídas".Enfim, o projeto é aprovado no Senado por uma quase unanimidade. Ao fim e ao cabo, o projeto da anistia passa pelas suas casas do Congresso e vai à sanção presidencial. O Marechal Hermes, sem pestanejar, assina aquilo que seria a rendição do governo. "A anistia foi um golpe de morte na marinha deste país. Pobre Brasil". Aqui está uma crítica mordaz à completa inversão de valores que se abatera pela capitulação pura e simples das autoridades constituídas.Mas a questão não terminaria aí. A anistia foi mera fachada. Aceitas as condições dos revoltosos, depostas as armas, o país começou a voltar à normalidade. Somente o governo não se sentia confortável com a situação. E, numa ação com todos os contornos de covardia e de torpes maquinações, os revolucionários foram caçados como feras, alguns trucidados, outros torturados e outros mais mandados para os confins da Amazônia, onde as febres e as agruras do meio facilitaram o seu fim.O fim da Revolta da ChibataNo dia seguinte, no caís, João Cândido é detido. Enfiado em um cela condenado a 6 dias de pão e água. 16 homens sairiam mortos. Entre os sobreviventes da cela estava o líder da Revolta , que teve sua prisão prolongada até abril de 1911 de onde saiu transferido para um hospício, para mais tarde voltar à prisão comum. Os marujos rebelados em 1910 já cumpriam dez meses de prisão, quando lhes chegou uma notícia inesperada. A Irmandade da Igreja Nossa Senhora do Rosário, protetora dos negros, havia contratado para defendê-los, no julgamento que se aproximava três grandes advogados. Os três aceitaram a causa com uma única condição: a de que não lhes dessem nada em troca.O julgamento durou 48 horas. A leitura da sentença final foi feita depois das 3 horas da manhã. Resultado: todos os marujos foram absolvidos por unanimidade. Assunto encerrado? Claro que não. Os desdobramentos foram ingratos. A anistia geral, ampla e irrestrita, livre do ranço revanchista e dos arrivistas, foi concedida para o líder da Revolta da Chibata, em cujo bojo se inseri a figura de João Cândido, através do Projeto de Lei 7198/2002, do Senado Federal, cuja Comissão de Constituição e Justiça e de Redação de forma póstuma a João Cândido Felisberto, que liderou em 1910 a chamada Revolta da Chibata, e aos demais participantes do movimento que teve como conseqüência a abolição dos castigos físicos na Marinha Brasileira. O relator da matéria, deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), ressalta que a proposta, embora quase um século depois, resgata o nome e a memória desses revoltosos, que lutaram legitimamente pelo fim do regime de semi-escravidão a que eram submetidos na Marinha. "Tem o mérito ainda de procurar recompor, na medida do possível, a história de suas vidas, como se tivessem permanecido a serviço da Marinha" afirma.Reconhecimentos... Aos 81 anos, recebeu uma homenagem, em sua terra natal, da Sociedade Floresta Aurora, em Porto Alegre e outra na cidade do Rio Pardo.Ao embarcar no avião no antigo Santos Dumont, num Convair, avião de luxo da época, em companhia do filho caçula, diz: Eu sou um penetra, o céu pertence aos passarinhos". Lá chegando recebeu o título de “Cidadão de Porto Alegre”.Houve um movimento no sentido de se fazer uma escultura com a cabeça de João Cândido, para colocá-la em praça pública, com uma programação de ser recebido no Palácio Piratini, pelo então governador Leonel Brizola, o que causou outro movimento, agora dos oficiais da Marinha, que serviam no Distrito Naval, com sede em Porto Alegre, gozando a concessão do título de “Cidadão de Porto Alegre”, a inauguração do busto e a recepção no Piratini. A pequena escultura está recolhida num pequeno Museu do Rio Pardo, a bem da verdade sumiu. A Câmara Federal, em 15 de dezembro de 1959, realizou sessão em Homenagem a Marinha de Guerra que foi revestida de descontentamento e mais uma vez por ter sido citado o nome do “Almirante Negro”, João Cândido, o mal estar foi de tal monta que os Ilustres Oficiais da Marinha, liderados, pelo então Ministro da Marinha, que após dar um soco na mesa, levantou e se retirou, sendo seguido pelos 30 oficiais da comitiva. Como se não bastasse, o fato teve repercussão no Clube Naval, que fez uma menção de desagravo ao fato. Uma homenagem, entretanto, sensibilizou a João Cândido, foi o lançamento da 2a. edição do livro “REVOLTA DA CHIBATA”, no IV Festival do escritor brasileiro, no Museu de Arte Moderna, em noite memorável, com a presença de mais de 200 marujos, cantando o “Cisne Branco” e atirando seus gorros para o alto, numa estrondosa manifestação de solidariedade ao velho marujo João Cândido. Naquela noite, o "Almirante Negro” foi abraçado por Jorge Amado, Rubem Braga, Paschoal, Carlos Magno, José Condé, Eneida, Adalgisa Nery, Vinicius de Moraes, Manoel Bandeira, Clarice Lispector, Cassiano Ricardo, Marques Rebelo, Rachel de Queiroz, Homero Homem, Raimundo Magalhães Junior, Carlos Cavalcante, até por outros grandes escritores, que vieram do Amazonas e Rio Grande do Sul. Apesar de todo o reconhecimento... Logo acabou-se o doce... Acabada a festa, percorridos 12 hotéis, recebeu em todos a mesma resposta: NÃO HÁ VAGA!Acordo Traído...No dia 26 de novembro de 1910, o Congresso aprovou lei que anistiava os insurretos dos navios da Armada Nacional, caso eles não se submetessem às autoridades. A anistia, no entanto, só valeu para conduzir os revoltosos à rendição. Dois dias depois de publicada a lei, o Governo traiu o acordo que lhe dera origem, promovendo demissões, prisões e castigos que, em inúmeros casos, resultaram na morte dos rebelados.(Reportagem - Daniel Cruz - Edição Rejane Oliveira - Reprodução autorizada mediante citação da Agência Câmara - 61-318.7423 Fax 61-318-2390 E-mail agencia@camara.gov.br. A agência utiliza material jornalístico produzido pela Rádio, Jornal e TV Câmra.Em 1964, apesar da saúde precária, João Cândido comparece à famosa rebelião dos marinheiros. Já totalmente imobilizado, recebe o “golpe da misericórdia” durante o regime militar quando sua pensão foi extinta, num ato de arbítrio. A partir de então, seus filhos não conseguem emprego.Quando da palestra, por mim proferida, no auditório da Federação das Academias de Letras e Artes do Brasil (CONFALB) oitenta e cinco (85) pessoas compareceram. Entre os quais representações de Lojas Maçônicas e da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de S. Benedito dos Homens Pretos. Portanto, para mim, em particular, a palestra atingiu o objetivo. Entre as mais variadas demonstrações de regozijo recebidas uma sensibilizou-me. Refiro-me a remetida pela Acadêmica Messody Bonoliel:"Oi amigo Burity... Sua palestra foi impactante, se é que posso adjetivá-la. O que foi por nós ouvido, pautou-se plenamente em fatos apurados com zelo por você. Sua inteligencia é evidente, jamais poderíamos duvidar da veracidade do que foi alí relatado. Pena é que não possamos mudar a história, como não mudamos a carnificna hitlerista, quando milhões de judeus foram exterminados da forma mais cruel, incluindo crianças. O mundo está cada vez pior, raça e religião se misturam de forma a darem vazão a tudo que vem ocorrendo, no momento, no Iraque e no Afeganistão. Mas o lado bom é que estamos vivos e sabedores de tudo que ocorre lá fora, nossa sensibilidade se aguça e sofremos também por impotência para solucionarmos as injustiças e violências cometidas há séculos. Para nos alegrar um pouco, vejamos alguns pensamentos: *As nuvens são como chefes...quando desaparecem, o dia fica lindo!*Os psiquiatras dizem que uma em cada quatro pessoas tem alguma deficiência mental. Fique de olho em três dos seus amigos. Se eles parecerem normais, o doido é você. Messody".O tema "marinheiro" sempre, ou melhor vez por outra, é cantado em verso e prosa... A Federação das Academias de Letras do Brasil promoveu no ano de 2003 o VI Concurso de Poesia Alte. Olavo Dantas com o tema: AMOR DE MARINHEIRO que teve como Comissão julgadora os acadêmicos: Hugo Gonçalves Roma, Marilza A. de Castro Nobre e Mércia de Aloan. Transcrevo a vencedora da Medalha de Ouro:AO TEU AMOR DE MARINHEIROEm minha vida foste o amor primeiropelo vento da saudade dispersado...Apesar do teu querer tão bandoleirocontinuas em mim, agasalhado...Eu seio que ter amor de marinheiroé quase viver, só, ninguém ao lado...é singrar pelos mares um veleiroque se destina aos cais abandonado...é abrir a porta a quem não veio ainda...O importante é rever um novo dianuma aurora de paz que chega, linda,a enfeitar de esperança o coração...Tentar prender nas cordas da poesiao leme de fugaz embarcação...Autora: Larissa Loretti. Natural do Rio de Janeiro. Contista, poetisa, trovadora, declamadora e musicista. Prêmio Adelmar Tavares em concurso internacional do Rotary Club (1977). Primeiro lugar no gênero Conto, entre dez mil concorrentes, no concurso Augusto Mota (1977). Primeiros lugares em concursos de conto e poesia da AABB- Associação Atlética Banco do Brasil - Rio de Janeiro. Numerosas outras premiações em composições em diferentes cidades do Brasil.Membro Efetivo da Academias Pan-Americana, Nacional de Letras e Artes e a outras instituições culturais. Autora do livro de contos: A ESCRITA DO ESPELHO.Quer queiramos ou não João Cândido é um herói sem monumento. João Cândido é símbolo da luta pela liberdade de milhares de homens que, com o corpo retalhado pela chibata, escreveram um significativo episódio de nossa história.Para a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), além do culto à figura histórica e libertária de João Cândido é motivo de orgulho e alegria. Conviver, diariamente, com um funcionário que tem no sangue a herança do patriotismo legado pelo "Almirante Negro", o filho de João Cândido, Adalberto do Nascimento Cândido, o 'Candinho", como é carinhosamente chamado, trabalhando no Departamento de Assistência Social daquela Casa.Curiosidade ou mera coincidência? No dia do funeral de João Cândido um forte temporal assolou o Rio de Janeiro, como se a natureza chorasse a perda daquele marinheiro... A chuva perdurou por todo o dia, inundando a Av. Brasil que se transforma num rio, se assemelhando ao mar, que era o seu habitat, trovões estouravam, lembrando salvas de canhões e os relâmpagos iluminavam o céu escuro.Todos são iguais perante a lei. Que grandiosa conquista da humanidade... Mas diferenças existem... E nesses casos, desiguais devem ser tratados como iguais? Há quem diga que a máxima: "Tratamento especial para especiais" seja dístico aristocrático. Como encarar então as disparidades do sistema social vigente no país? Eis a grande expressão algébrica social interrogativa dos dias atuais. Não se trata da utilização de palavras tendenciosas para captar e utilizar, com objetivos menos lícitos: Fora da cultura e da educação não há salvação. Cidadania acima de tudo! Esta é a história de um homem que dedicou grande parte de sua vida à Marinha. Mas que depois da revolta de 1910, jamais conheceu a tranqüilidade.Em sua lápide, está escrito:"João Cândido, o negro que violentou a História".Em outra a legenda embaixo do seu retrato:"João Cândido, exemplo para os jovens".Na Câmara Municipal do Rio de Janeiro encontramos os seguintes registros:Projeto de Lei 2140/2000 DÁ O NOME DE MARINHEIRO JOÃO CÂNDIDO, O “ALMIRANTE NEGRO” (1880-1969), AO LOGRADOURO QUE MENCIONA, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.Projeto de Lei 1995/92 DISPÕE SOBRE A CONSTRUÇÃO DE MONUMENTO EM HOMENAGEM A JOÃO CÂNDIDO, O “ALMIRANTE NEGRO”. Projeto de Lei 736/84 DÁ O NOME DE MARINHEIRO JOÃO CÂNDIDO A UM LOGRADOURO PÚBLICO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. Projeto de Lei 737/84 DÁ O NOME DE MARINHEIRO JOÃO CÂNDIDO A UM ESTABELECIMENTO DE ENSINO PÚBLICO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.Projeto de Lei 738/84 DETERMINA O PODER EXECUTIVO A ERIGIR UM MONUMENTO AO “ALMIRANTE NEGRO” EM HOMENAGEM AO MARINHEIRO JOÃO CÂNDIDO. Projeto de Resolução 148/84 CONCEDE O TÍTULO DE CIDADÃO HONORÁRIO DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, “POST - MORTEM”, AO MARINHEIRO JOÃO CÂNDIDO.Quantos projetos aprovados? Quantos colocados em prática? Isto é outra história.Assim como eu, as pessoas fazem o melhor que podem e se, erram, o melhor é oferecer a compreensão.A Revolta da Chibata foi um movimento pontilhado de forte reivindicação social e João Cândido, mesmo não sendo reconhecido, durante muito tempo, será a sombra de um ídolo e suas façanhas, aqui, ali ou acolá serão cantadas e imortalizadas mais que os bronzes oficiais.Quando da palestra agradeci a atenção dispensada e desejei a todos um seguro retorno aos lares e que continuassem envidando, sempre, esforços à causa da cultura, da educação, do trabalho e da preservação e conservação dos valores éticos e morais para que todos os filhos deste solo fértil, desta nossa imensa nação, possam se orgulhar de serem brasileiros.Hoje, aos internautas do Portal Mhário Lincoln, deixo registrado os meus agradecimentos pela atenção dedicada à leitura deste despretensioso arrazoado.
Artigo enviado às 12/03/08, dia 12/03/08 por Mhario Lincoln - Categoria: Elvandro Burity