José Sebastião Ferreira
4 de novembro às 13:43
Parabéns, querida! Sucessos!


Lançamento no Rio de Janeiro - veja convite no link abaixo:

http://inbrasci.blogspot.com.br/

ELVIRA ARAÚJO E BENEDITA AZEVEDO LANÇAM
“IKEBANA”, A ARTE DAS FLORES VIVAS.
(Arranjos da portuguesa, Elvira Araújo e Haikais da brasileira do Maranhão, Benedita Azevedo, mageense de coração).
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Artigo publicado nos jornais de Portugal e Espanha
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"Elvira Araújo apresentou no Auditório Municipal de Amares, no dia 26 de Setembro, o seu livro de arranjos florais, de arte nipónica, “IKEBANA”. Voltou a apresentá-lo na Galiza, no Casino La Toja, a 1 de Outubro. Sempre a seu lado, a poeta Benedita Azevedo,autora brasileira dos HAIKAIS, tercetos alusivos a cada peça de arte floral. Com fotografia de Fernando Araújo e Eduardo Faria, teve como apresentadores Ernesto Português e Gonzalo Allegue, ex-editor."
“Transformar ambientes através do carinho da flor. A beleza e o sentimento que elas podem provocar em silêncio profundo, mas tão belo e simples... IKEBANA é muito mais que uma arte, é um poema de vida. É a técnica mais simples de transformar sentimentos negativos em bem-estar, através da simplicidade da flor”- assim se exprime Elvira Araújo, em palavras prévias aos seus arranjos. Na sua essência, ikebana é uma forma de arte japonesa de criar arranjos florais. Tem a particularidade de incluir no arranjo o vaso, caules, folhas e ramos, além das flores, numa estrutura capaz de simbolizar o céu, a terra e a humanidade. A parte material supõe uma filosofia de vida que consiste em avaliar uma pessoa pelo grau do seu espírito de justiça, não acreditar que o sucesso se baseia na mentira, rejeitar o egoísmo e o apego, observar a ordem e a educação, capacidade de cada um traçar o próprio destino, contrariar a visão estreita das coisas com o espírito de harmonia ou visão ampla, combater os aspetos condenáveis da satisfação ou da insatisfação, ser flexível tendo por base a sinceridade, cultivar a bondade e a cortesia, evitar o orgulho e a mania das grandezas, manter uma atitude discreta e moderada, ser sincero e desenvolver a inteligência... Elvira Araújo transmitiu magistralmente essa vivência anímica à centena de arranjos florais que apresenta na sua obra.
Se bem que o livro dê mais relevo à imagem, Benedita Azevedo foi convidada a construir tercetos de pensamento autónomo, os haikais, para juntar a cada um dos ikebanas. Às vezes com muita simplicidade, outras com imenso mistério: “As flores de olaia, contraponto com o arco-íris na tarde chuvosa”. A Benedita veio do Rio de Janeiro, trazendo na bagagem a sua prática de professora de língua e literatura portuguesa e brasileira, onde se alicerçaram também os poemas haikais do extremo oriente. E uma mão cheia de diplomas de mérito cultural.
Na apresentação do livro, no Auditório Municipal, Ernesto Português refere que a imagem e a palavra formam um todo, e que os dois elementos não se podem entender um sem o outro, abrindo as asas da imaginação. Não há uma única leitura, antes uma pluralidade de sentidos. A beleza das formas está em plena sintonia com a filosofia que lhe subjaz. Os princípios universais do belo, da ordem, da simplicidade, da harmonia e do respeito pela natureza tocam de perto a alma. “Esta obra tem cerca de 90 arranjos florais e cada uma tem a sua história. São histórias que a professora Elvira partilhou, ao longo de dias, com uma especialista de haikai”. A obra é simples e complexa. É na combinação da forma e do ritmo que a beleza vem ao de cima.
Os arranjos precisaram de um fotógrafo. Afinal, a Neca encontrou-o em casa, o irmão Fernando, que, se não é profissional, com muito profissionalismo apoiou-se na competência do Eduardo Faria.
Não se trata de um livro para folhear. “É um livro para ver, ler, interiorizar e meditar”, na tríplice perspetiva do arranjo floral, da fotografia e da palavra.
A apresentação do livro no casino “La Toja” esteve a cargo do ex-editor Gonzalo Allegue, perante uma plateia de antigas alunas de ikebana da professora Elvira, já habitante como elas em O Grove, e os livreiros das livrarias Imprenta, Papirus e Cortiñas. Allegue chamou à autora “carteirista de flores”, capaz de assaltar “los que tengam casa y jardín, pero también aquellos que no teniéndolos tengan en el balcón del piso, en la ventana, una maceta”. Referiu que quando o budismo vindo da China e da Coreia, entrou no Japão, foram habituais as oferendas de flores nos altares, mas de maneira desordenada, anárquica. Até que, um dia, o monge Imoko decidiu pôr ordem naquele amontoado de flores. Justamente, desta decisão nasceu a arte floral que veio a chamar-se ikebana. .Muitas foram as escolas que vieram a desenvolver esta arte. “Ikebana es silencio, y meditación, orden y comunión com la naturaleza. Pero sobre todo silencio”. Gonzalo Allegue lembrou uma página do novelista japonês Tanizaki, “Las hermanas Makioka”. A cena tratava da tradicional festa das flores, ou contemplação das flores. Milhares de pessoas, famílias inteiras, as mulheres com kimonos de seda com desenhos de crisântemos e sombrinhas de papel floreado levam peças de seda e as colocam debaixo das cerejeiras. Ali esperam em silêncio que, uma a uma, caiam as pétalas. Em silêncio, porque o essencial é ouvir o barulho da pétala ao cair. Trata-se de uma subtileza maravilhosa, própria de um Japão que faz da estética e do silêncio o eixo central da sua existência. Gonzalo lembrou ainda que em Coria del Río, Sevilha, se celebra um Hanami – essa festa. No ano de 2013, veio o príncipe Naru-Hito e plantou em Covia uma cerejeira ao lado do Guadalquivir. Gonzalo Allegue foi rematando que o livro da Elvira é “simplemente una pequeña joya”. A “carteirista de flores” tem a desculpa mais perdoável que se possa ter. A desculpa estética. Cada composição da Neca destila silêncio, paz, ordem, equilíbrio.
Tanto em Amares como em O Grove, as apresentações foram coroadas por requintes de sabores. No Auditório da Assembleia Municipal, não faltaram nem podiam faltar os doces com a laranja de Amares, especialidade da Elvira e da Arminda Costa. A empresa familiar Quelha Branca trouxe compotas variadas, licores, bolachas e bolachinhas. O Verde de Honra tirou as palavras do silêncio. No Casino, houve a inspiração de Matilde Felpeto, escritora especializada em gastronomia. O Casino La Toja ofereceu a merenda. Claro que também lá estavam os doces de laranja da Elvira. Mas o Chefe e célebre barman José Coto serviu vinhos à discrição para acompanhar o bacalhau com espinafres, a carne no caldeiro e os croquetes. Na espuma do mar do Grove brotou um Haikai da poeta Benedita Azevedo:
 
La luna se mira
En el espejo del mar -
Recepción a los poetas.
Adelino Domingues