InBrasCI - Verbete Wikipédia

sábado, 8 de setembro de 2012

MENSAGEM DE DIEGO MENDES SOUZA


Blogs > Blog de artesWWW.PROPARNAIBA.COM

O breve solfejo de Astrid Cabral

Post do blog O breve solfejo de Astrid Cabral foi atualizado.


Faço questão de atribuir esta vitória ao poder da palavra poética. Penso que obtive votos não só de amigos, mas também de leitores e que a poesia, e não Astrid Cabral, é a grande vencedora deste Troféu Rio Personalidade Cultural 2012.



DISCURSO


Prezado Dr. Abílio Kac, presidente da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro.

Queridíssima amiga Stella Leonardos, secretária-geral desta instituição.

Prezada Ricardina Yone, diretora cultural.

Prezada secretária Marilza Albuquerque de Castro.

Prezados compaheiros José Arthur Rios e Sérgio Besserman Vienna.


A vida nos oferece situações imprevisíveis, acontecimentos com os quais não ousaríamos sequer sonhar, por estarem tão longe de nossas expectativas. Esta é para mim uma ocasião de perplexidade.

Confesso que ao ser consultada sobre a indicação de meu nome para concorrer ao Troféu da UBE, Rio Personalidade Cultural 2012, concordei levianamente, comovida com a delicadeza e a generosidade do amigo Edir Meirelles. Mas em momento algum pude supor que a aquiescência redundaria no atual resultado, já que concorreria com pessoas de tão alto gabarito e reconhecida excelência. Com sinceridade, pensei que meu habitual recolhimento me blindaria.

Tenho, além disso, a precaução de não me deixar empolgar diante do extraordinário e tomar por leme o verso camoniano: Qualquer grande esperança é grande engano. Estava, pois, posta em sossego.

Agora, no entanto, estou absolutamente surpreendida, sou peixe fora d’água. Nunca imaginei que tivesse tantos amigos, e a constatação desse patrimônio afetivo, além de ser fonte de alegria, constitui para mim verdadeira vitória. Afinal, não desconheço o meu relativo afastamento da vida social, a dificuldade que tenho em acompanhar de perto as atividades institucionais, bem como as desatenções que egoísticamente cometo, ao defender meu escasso tempo de disponibilidade para a criação.

De fato, ao longo dos meus já muitos anos, tenho convivido sempre com incompatibilidades entre a vida doméstica e a pública. A velha sensação de que Deus me deu o dom das letras, mas um destino familiar que me impede a devida entrega à vocação.

Assim sendo, agradeço a bondade de todos os que me distinguiram com seu voto sem levar em conta minhas ausências e distrações.

Faço questão de atribuir esta vitória ao poder da palavra poética. Penso que obtive votos não só de amigos, mas também de leitores e que a poesia, e não Astrid Cabral, é a grande vencedora deste Troféu Rio Personalidade Cultural 2012.

É evidente que isso constitui imensa satisfação para mim. Afinal, o gênero poético, com exceção da canção popular, é marginalizado na cultura de massa, e praticamente excluído da grande mídia escrita e falada, além de ser com frequência relegado ao nível do chão nas livrarias. Porém, em contraste com essas consabidas adversidades, pode encontrar abrigo no coração das pessoas sensíveis que desejam algo além da avalanche esmagadora de informações eruditas ou pragmáticas do mundo contemporâneo.

Aliás, quero ressaltar o relevante papel que a União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro vem desempenhando, em seus cinquenta e quatro anos de vida, ao prestigiar a atividade dos poetas, por meio de suas premiações anuais, feitas com sabedoria e as nunca assaz louvadas lucidez e dedicação da poeta Stella Leonardos.

A poesia, por lidar com a linguagem emotiva entre seus recursos, consegue arrebatar alguns adeptos aos quais devo a honra de receber, nesta festa, o troféu esculpido pela ilustre artista, Dorée Camargo, tão respeitada e querida de todos nós.

Cabe nesta ocasião lembrar que devido às minhas inquietações de alma cigana e às mudanças geográficas de filha de um cearense capitão da marinha mercante, bem como de meus tempos de oficial de chancelaria, morei nada menos que em oito cidades, sem contar as de pequenas temporadas turísticas.

Saindo de Manaus aos dezoito anos para estudar no Rio de Janeiro, plantei novas raízes nesta acolhedora terra, onde, contabilizando os anos, já vivi bem mais de 30 e a maior parte da minha vida.

O Rio é, de fato, uma cidade de magnética beleza. Desde a remota meninice nela habitei em desejo e imaginação, pois não só imantava os jovens amazonenses, interessados em construir seu futuro, como também era o sonho dos adultos para roteiro de férias, e dos mais velhos para transferência de moradia quando aposentados.

Poucas cidades no mundo conseguem reunir tantos atrativos que contemplam as mais diversas exigências: mar e montanhas, praias e jardins, arquitetura histórica e de vanguarda, efervescência cultural de elite e popular, clima de liberdade e efusiva alegria. E sobretudo o calor humano de seus filhos que não discriminam cariocas natos dos adotivos.

Assim é que hoje, em função de tantas vivências, sou manauara-carioca. Recordações fundamentais da minha vida estão aqui sediadas: a formação profissional em letras na antiga Faculdade Nacional de Filosofia e em instituições de aprendizado do inglês, o encontro com meu marido, o poeta goiano Afonso Felix de Sousa, o nascimento de Raul e Alfredo, os dois primeiros filhos, e mais tarde a educação dos cinco nos colégios e clubes cariocas, a publicação de nove dos meus quinze livros, a maioria dos prêmios obtidos, e as temporadas em hospitais da cidade e nos bairros cariocas da Glória, Santa Teresa, Gávea e Laranjeiras. É também no Cemitério dos Ingleses da Rua da Gamboa, que espero repousar quando me mudar do Parque Guinle.

Digo, por experiência própria, que discursos longos e modestos costumam entediar os ouvintes. Por causa disto, encerro minhas breves palavras, agradecendo a presença de todos e mais uma vez esta honra que, embora afague meu coração, muito me ultrapassa.



Discurso de Astrid Cabral

Rio de Janeiro, Agosto de 2012


Compartilhar com:

8 setembro, 2012 - 13:06 - Diego Mendes Sousa