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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

CEGOS?

Cegos?
(Por Alessandra Leles Rocha)

Quanto mais me rendo a observação da humanidade mais me inquieto diante de sua cegueira coletiva. Sim! Muitos de nós estão cegos! Não me refiro a cegueira que acomete aos olhos e impede uma visão clara do mundo ao redor; mas, algo que compromete os sentidos e bloqueia a percepção pessoal e coletiva da vida, do cotidiano, da própria existência.
Se o jiló é um exemplo trivial da amargura e sua lembrança nos repugna com tanta veemência o paladar, por outro lado nossa cegueira conduzi-nos a fazer das experiências diárias degustações de jilós sem piedade. É como se a mente não conseguisse correlacionar as duas vertentes ruins e nos impingisse a transferir o desagrado semelhante sem identificá-lo como tal.
Os sentidos humanos parecem letárgicos em alg uns momentos e em plena confusão em outros, o que torna tudo sem foco, sem cor e sem luz para o Homo sapiens do século XXI. Olhos que vêem e não decodificam a imagem real. Ouvidos que ouvem e não decodificam mensagens. Narizes que cheiram e não decodificam odores. Bocas que engolem e não decodificam o que estão degustando. Peles que sentem e não decodificam o toque.
A cegueira pôs em questão o certo e o errado, o querer e o poder, o ser e o ter, o viver e o morrer. Sua profundidade corrompeu-lhe os princípios, a ética e a moral. Para um cego tamanha desorientação é o que de pior pode lhe acontecer.
Como quem entra num quarto escuro, os primeiros momentos são difíceis, mas gradativamente o ambiente torna-se familiar; por isso, é preciso atenção, reduzir a velocidade dos pensamentos e ações, estabelecer-se na nova condição para buscar a saída dela. Não somos cegos! Estamos cegos! Esta diferença básica e fundamental nos permite transpor as barreiras e retomar as rédeas da situação. O que nos incomoda, nos infelicita, não tem que ser perpetuado mesmo sob outras perspectivas; há de se extirpar ou se possível converter em algo mais feliz e produtivo. Se "em terra de cego quem tem um olho é rei", vamos tomar posse de nossos reinos e viver sob o signo da luz. Nós, seres humanos, não fomos feitos para vagar errantes e distantes da razão; ao contrário, nossos pares de olhos são símbolos perenes de que necessitamos sempre espiar além deles, compreendendo os elementos de nossa própria essência.
Alessandra Leles Rocha
Publicação: http://www.paralerepensar.com.br/ - 10/09/2008