SER HUMANO INDA EM BOTÃO
(Carvalho Branco)
Menina de rua, vagando na esquina...
Vendendo pipoca, rapadura, amendoim...
Seu nascer não tem registro:
Parto feito na quina
De um edifício em ruína,
Após ter sofrido um sinistro...
De pai e mãe, ninguém sabe o fim...
É esmoleira, ladra, vendedora, flanelinha...
Anda nua ou veste trapo,
Não mora, não come, nem cozinha...
Ela se esconde
Sob marquise, viaduto ou ponte
Sua voz é um fiapo
De som, que se esgueira da gargantinha...
Mas tem seu grupo, turma, gangue:
Ao cair da tarde, juntam-se todos no Mangue;
É o momento da “degola”:
Cada um entrega a renda do dia ao Major
- do grupo, o chefe maior...
Quem nada tiver apurado,
Fora do grupo é jogado;
Vivo ou morto, não importa,
Pra ele fecha-se a porta.
Depois vem a partilha da “janta”:
Todo mundo a cheirar cola...
E a água da sarjeta é bebida como “fanta”.
Pobre menina de rua,
Sempre vagando na esquina...
Vestindo trapos ou nua,
Seu destino desatina...
Vivendo à margem da vida,
Alma penada, perdida
No inferno da existência...
Um organismo em falência,
Numa sociedade falida...
Oh, Deus dos pobres, dos miseráveis!
Oh, Senhor da Criação!
Por que fazer seres degradáveis?
Degredados da Sua Nação?
Onde está Sua bondade?
Livre arbítrio é enganação!
Nascida morta-viva, na verdade,
Que chance tem tal menina
De galgar a ascensão
De uma classe desmedida
Da nossa população?
Somos nós que derrapamos
Na rota da contra-mão,
Ou é Você que desafina
Na própria orquestração?
Um governo sem atento
À triste situação...
Um povo sem ter alento,
Empresário em condição
De promover, não o sustento,
Mas a real solução,
Não fazem planejamento,
Deixam para a próxima estação!
Salvar o Meio-Ambiente
É tão importante quanto
Salvar a população,
Dando-lhe condigno emprego,
Saúde, Cultura e Educação!
Branco, amarelo ou negro,
O ser vivo é sempre irmão...
Que a palavra do homem não seja manto
A acobertar degradação....
Seja, de fato, o VERBO, mola da Criação,
O propulsor elemento,
O fomento
E o alimento
Do Novo Homem em botão!...